Nove Poemas ou Fragmentos
Ao lar, Vésper, tu fazes que regressem todos
Que a radiante Aurora aos longes conduziu:
Ovelhas ao redil, as cabras aos apriscos,
E os filhos para ao pé de sua mãe.
*
A Lua pôs-se,
Com ela as Plêiades,
E a Meia-Noite
Já se aproxima.
O tempo passa,
E passa, enquanto
Sózinha eu jazo.
*
Átis, amei-te outrora, há muito tempo...
Eras criança, uma criança ainda.
*
O amor — súbita brisa
Que nas folhas tropeça —
Meu coração deixou
Tremente.
*
Não sei
Viver:
Minh'alma
Em dois
Partida.
*
Ergue-te e fita-me
De amigo a amigo:
Mostra-me o encanto
Dentro em teus olhos.
*
Se me amas busca juvenil amor
Que contigo partilhe a vida e o lar:
Sequer posso pensar em que seria
A amante velha de um marido jovem.
*
Se a meus seios o leite ainda viesse,
Meu ventre ainda emprenhasse, ah como iria,
Veloz, sem vacilar, render-me aos braços
De um homem outra vez.
Mas tantas são as rugas que na carne
Me entreteceu o tempo! Nem Amor
Para mim corre, ou me persegue, ou dá
O seu prazer que dói.
*
É um mal a morte,
E os deuses assim pensam:
Ou já estariam mortos
Há muito, muito tempo...
Safo, in 'Poesia de 26 Séculos, Jorge de Sena'