O Túnel
O luar cai de leve pelo chão,
Pela estrada e nos flancos da montanha
Como algodão...
Sobre os dormentes do seu leito
A linha férrea vai ao infinito...
O trem que ulula e gesticula
Passa iluminado,
Agitando no ar a sua bandeira de fumaça...
Rola na sua fuga pelo espaço
Bufando
Berrando
Silvando
Roncando
Rápido
Rangente
Como a bramir a sua loucura...
Assemelha um cometa
Com o núcleo da máquina incendida
E a cauda luminosa dos wagons...
Além se avista a sombra
Do túnel encravado na montanha
Garganta que assombra como a morte:
Treva entre duas vidas luminosas...
Túnel!...
Em ti o trem se precipita e corre
Inflamado de lâmpadas vermelhas
Como um jato de sangue que escorre,
E tu semelhas
Na negridão das trevas latejantes
A uma veia Túrgida e cheia...
Eu, que admiro tudo
Que vejo pela terra e pelos céus
Amo tua face tétrica e parada
Em que o trem penetra
Como um punhal de luz no coração da treva...
Amo também o que tu simbolizas:
A sombra hiante da morte,
Túnel de minha vida...
Luís Aranha, in 'Cocktails - Poemas, São Paulo, 1984'