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Murilo Mendes

Brasil
13 Mai 1901 // 13 Ago 1975
Poeta

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Testemunha

O céu se retira como um livro que se enrola.
Um anjo blindado solta os sete pecados mortais.
Mulheres-cavalos galopam furiosamente nas ruas,
Homens ajoelham-se diante do sexo duma fêmea,
Outros diante dum ídolo de ouro e prata.
Poderosos refletores iluminam milhares de sovacos.
Quem passeia no mar, quem sonha no mar
Se o mar está tinto do sangue derramado das virgens.
Mil bêbedos fuzilam o coração de Jesus.
Chacais hienas e urtigas invadem a alma dos ditadores.

Crianças nascem nos tanques ao som de um clarim.
As cidades transbordam de famintos,
Famintos de comida e da palavra de consolo.
Poeta, cobre-te de cinzas, volta à inocência.
Impede que se derrame o cálice da ira de Deus,
Tu que és a testemunha sustenta o candelabro.
Monta o cavalo branco e reconstrói o altar
Onde se transforma pão e vinho,
Indica à turba as profecias que se hão de cumprir,
Revela aos presos olhando através das grades
Que o mundo será mudado pelo fogo do Espírito Santo,
Descerra os véus da Criação, mostra a face de Cristo.

Murilo Mendes, in 'Poesia Completa, Rio de Janeiro, 1994'




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