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Arthur Schopenhauer

Alemanha
22 Fev 1788 // 21 Set 1860
Filósofo

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A Importância de Aprender várias Línguas

Pessoas com poucas capacidades não conseguirão realmente assimilar com facilidade uma língua estrangeira: embora aprendam as suas palavras, empregam-nas apenas no significado do equivalente aproximado da sua língua materna e continuam a manter as construções e frases próprias desta última. Com efeito, esses indivíduos não conseguem assimilar o espírito da língua estrangeira, que depende essencialmente do facto do seu pensamento não se dar por meios próprios, mas, em grande parte, de ser emprestado pela língua materna, cujas frases e locuções habituais substituem os seus próprios pensamentos. Eis, portanto, a razão de eles sempre se servirem, também na própria língua, de expressões idiomáticas desgastadas, combinando-as de modo tão inábil, que logo se percebe quão pouco se dão conta do seu significado e quão pouco todo o seu pensamento supera as palavras, de modo que tudo se reduz a um palratório de papagaios. Pela razão oposta, a originalidade das locuções e a adequação individual de cada expressão usada por alguém são o sintoma inequivocável de um espírito preponderante.
Por conseguinte, de tudo isso resultam os seguintes factores: no aprendizado de toda a língua estrangeira, são formados novos conceitos para dar significado a novos signos; certos conceitos separam-se uns dos outros, enquanto antes constituíam juntos um conceito mais amplo e, portanto, menos definido, justamente porque havia apenas uma palavra para ele; são descobertas revelações até então desconhecidas, pois a língua estrangeira define o conceito mediante um tropo que lhe é peculiar ou mediante uma metáfora; desse modo, graças ao aprendizado de uma nova língua, entram na consciência uma infinidade de nuances, semelhanças, diferenças, relações entre os elementos; finalmente, obtém-se uma visão mais ampla de todas as coisas. A consequência disso tudo é que em toda a língua se pensa diversamente, de modo que o nosso pensamento recebe uma nova modificação e uma nova coloração sempre que aprende um idioma, o que faz com que o poliglotismo, além das suas muitas utilidades indirectas, seja também um meio directo de formação intelectual, na medida em que ele corrige e aperfeiçoa as nossas opiniões, bem como aumenta a agilidade do pensamento graças à multiplicidade e à nuance dos conceitos que ressalta, pois, com o estudo de muitas línguas, e assim o conceito liberta-se cada vez mais da palavra.

Arthur Schopenhauer, in 'Da Língua e das Palavras'




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