Como investigadores do conhecimento, não sejamos ingratos com os que mudaram por completo os pontos de vista do espírito humano; na aparência foi uma revolução inútil, sacrílega; mas já de si o querer ver de modo diverso dos outros, não é pouca disciplina e preparação do entendimento para a sua futura «objectividade», entendendo por esta palavra não a «contemplação desinteressada», que é um absurdo, senão a faculdade de dominar o pró e o contra, servindo-se de um e de outro para a interpretação dos fenómenos e das paixões. Acautelemo-nos pois, oh senhores filósofos!
Desta confabulação das ideias antigas acerca de um «assunto do conheciemnto puro, sem vontade, sem dor, sem tempo», defendamo-nos das moções contraditórias «razão pura», «espiritualidade absoluta», «conhecimento subsistente» que seria um ver subsistente em si próprio e sem órgão visual, ou um olho sem direcção, sem faculdades activas e interpretativas? Pois o mesmo sucede com o conhecimento: uma vista, e se é dirigida pela vontade, veremos melhor, teremos mais olhos, será mais completa a nossa «objectividade». Mas eliminar a vontade, suprimir inteiramente as paixões - supondo que isso fosse possível - seria castrar a inteligência.

Friedrich Nietzsche, in 'Genealogia da Moral'

1. Aprender a Ver
2. A Fragilidade dos Valores
3. O Que se Pode Prometer
4. A Vida não me Desapontou
5. Cada um Tem o Seu Conceito de Felicidade
6. É Preciso Aprender a Amar
7. A Genética Condiciona a Felicidade
8. O Caminho da Felicidade
9. Os Fortes Aspiram a Separar-se e os Fracos a Unir-se
10. O Amor ao Próximo
11. Não Seremos Capazes de Modificar um Único Homem
12. Escolhe Inimigos Que Te Mereçam
13. A Necessidade do Próximo
14. Mais Vale Ser Surdo que Ensurdecido
15. Ser Injusto é Necessário
16. O Valor Natural do Egoísmo
17. Os Quatro Erros
18. A Vantagem do Esquecimento
19. A Comédia do Ambicioso
20. Todo o Grande Homem é Céptico
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