Maus Tratos
Por várias vezes nos chegaram aos ouvidos as notÃcias de maus tratos. Resolvemo-nos, um dia, a tirar o caso a limpo e a fazer observar por médicos de confiança aqueles que se queixavam desses maus tratos. Devo dizer-lhe que se chegou à conclusão de que os presos mentiam, para tirar efeitos polÃticos, na maioria dos casos, mas quero dizer-lhe, também, realmente, que algumas vezes falavam verdade. É claro que eram tomadas sempre, em casos desses, imediatas providências, e foi essa a razão de se terem dado algumas alterações nos quadros da PolÃcia. Atribuir a responsabilidade, portanto, ao Governo desses maus tratos é prova de ignorância ou de má-fé.
(...) No entanto, chegou-se à conclusão de que os presos maltratados eram sempre, ou quase sempre, temÃveis bombistas que se recusavam a confessar, apesar de todas as habilidades da PolÃcia, onde tinham escondidas as suas armas criminosas e mortais. Só depois de empregar esses meios violentos é que eles se decidiam a dizer a verdade. E eu pergunto a mim próprio, continuando a reprimir tais abusos, se a vida de algumas crianças e de algumas pessoas indefesas não vale bem, não justifica largamente, meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras...
António de Oliveira Salazar, in 'Imprensa (1932)'