Porque Ficam Quietos à Espera?
Fico extremamente surpreendido por vos ver a todos tão preocupados com a vida. A vida não se compreende por meramente pensarmos sobre ela; só pode compreendida por a vivermos ao máximo. Não existe outra maneira de conhecer a verdade.
Acordem para a vida! Toca a mexer! A verdade não é algo inanimado que se pode encontrar sem qualquer esforço. É uma corrente extremamente viva. Só a pessoa que se movimenta com ela, livremente e sem reservas, pode encontrá-la. Ao pensarmos a longo prazo, frequentemente perdemos de vista aquilo que está mesmo à nossa frente. Aquilo que está debaixo do nosso nariz o tempo todo é a verdade e o que está à distância está escondido nela. É ou não inevitável que tenhamos de descobrir o que está perto, para depois descobrir o que está longe? Não é no momento presente que existe todo o futuro? Não contém o mais pequeno passo a maior viagem que nos espera?
Um humilde agricultor dirigia-se para as montanhas pela primeira vez na vida. Embora não se situassem muito longe da sua povoação, ele nunca tinha tido a oportunidade de subir até lá. Dos seus campos era possível avistar os cumes, cobertos de um manto verde, e muitas vezes ele sentia um enorme desejo de os ver de perto. Mas, por uma razão ou por outra, a viagem ficava sempre adiada e ele ainda não tinha podido lá ir.
Da última vez, o que o tinha impedido de ir era o simples facto de não ter consigo uma lanterna e para chegar às montanhas era necessário partir durante a noite. A difícil escalada era ainda mais problemática após a alvorada. Mas desta vez ele tinha uma lanterna e estava tão ansioso por partir que não tinha dormido nada durante as primeiras horas da noite.
Levantou-se às duas da manhã e seguiu em direção às montanhas. Ainda mal tinha saído da aldeia hesitou, e depois parou. Começou a pensar, instalando-se uma preocupação na sua cabeça. Ao sair da aldeia, de imediato percebeu que era noite de lua nova e estava rodeado do mais profundo breu. Claro que tinha a lanterna consigo, mas a luz da mesma não poderia incidir sobre mais do que dez passos à sua frente e a subida era de cerca de quinze quilómetros.
O seu raciocínio era que tinha de percorrer quinze quilómetros mas a luz de que dispunha só poderia iluminar dez passos à sua frente. Como é que isso poderia ser suficiente? E seria aconselhável avançar pelo breu adentro tendo somente a luz daquela pequena lanterna? Seria o mesmo que fazer-se ao mar num barco muito pequeno. Deixou-se ficar nos arrabaldes da aldeia à espera do amanhecer.
Mas, enquanto ele estava ali sentado, passou por ele um velho, que se dirigia às montanhas, levando na mão uma lanterna ainda mais pequena. O agricultor deteve o velho e com ele partilhou as suas dúvidas. O velho começou a rir-se bem alto e disse:
- Seu louco! Basta que comeces por dar dez passos... caminha até onde consigas ver. Então começarás a ver outra vez a mesma porção de terreno. Ainda que só conseguisses ver um passo à frente, poderias dar a volta ao mundo com a ajuda dessa quantidade de luz.
O jovem compreendeu, levantou-se e fez-se ao caminho, e antes de o sol nascer já tinha chegado às montanhas.
Vale a pena recordar o conselho deste velho até mesmo no caminho da vida. Também vos quero dizer o mesmo. Amigos, porque ficam quietos à espera? Levantem-se e ponham-se a andar! Não é aquele que pensa, mas, sim, aquele que se mexe, quem alcança. E que fique bem claro que todas as pessoas têm discernimento e iluminação suficientes para ver dez passos à frente – e isso é o suficiente. Isso é o suficiente para alcançar a piedade.
Osho, in 'Candeias de Barro'