Hoje não te posso tocar. A melodia da tua voz, o perfume da tua pele e o abraço suave dos teus beijos são, neste momento, apenas pedaços soltos que a imaginação produz na minha memória.
Sinto a tua ausência mas, nessa dor, sinto também a tua presença. Não consigo arrancar ao silêncio uma só palavra tua. Mas sei que estás aqui...
Escolher é sempre eliminar opções. Escolhi-te e continuo a escolher-te. Mesmo que não te possa sentir sem ser pela fé no amor. Não oiço o teu coração, mas sinto o meu bater como se fossem dois.
És em mim, porque te dás a mim em cada gesto. Sou em ti, porque te amo. Sou quem sou por ti e para ti.
Sonho-te a dançar entre as cordas das gotas da chuva que cai, tocando nessa harpa celestial a melodia da nossa vida a dois.
Talvez demores, mas eu nunca me cansarei de esperar. Tarda o que tiver de ser. Não te apresses. Temos a eternidade. Claro, neste momento, queria sentir o sopro da tua respiração... mas a verdade é que espada alguma nos pode separar. Nem o mal, pois que o bem está connosco. O tempo corre a nosso favor e eu espero.
Sim. A resposta é sim. Estou bem.
Faltará pouco para poder ouvir-te a chamares-me pelo nome... mesmo que demore muito.
Não consigo sequer pensar em não amar quem, como tu, me aceita com todas as minhas fraquezas. A quem, senão a ti, devo entregar as minhas forças e talentos?
O nosso amor é um mar. Infinito, forte e persistente, jamais se cansa... e, apesar das marés, nunca deixa de estar vivo. E nós vivemos no íntimo desse mar... embalados pela paz do abraço que nos uniu.
Senhora dos meus silêncios e das minhas tempestades... Sim. Estás aqui. Sinto-te, ainda que apenas com o coração. Mas também nenhuma outra verdade me importa.
A mim? A mim basta-me saber que estás aqui.
José Luís Nunes Martins, in 'Pilar'
[Autoria da Ilustração: Carlos Ribeiro]