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José Luís Nunes Martins

Portugal
n. 14 Mar 1971
Filósofo
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Próxima Estação

Querida amiga,

Já terás partido para longe quando estiveres a ler estas linhas... permite-me que partilhe contigo o que sinto a respeito desta tua grande mudança...

Nunca é bom colocarmos qualquer tipo de âncora na saudade ou nos sonhos. A nossa casa, o nosso país, é o lugar onde nós estamos. É aí que temos de ser quem somos. É aí que temos de descobrir a felicidade de cada dia. Tudo o resto é estrangeiro.

Cada homem pertence tanto ao sítio de onde vem como àquele para onde vai. A ideia de que as nossas raízes nos prendem e condenam segue na linha errada da outra, também comum, de que os sonhos nos fazem perder... não, a vida é esta forma de ir sendo sempre mais, o que se foi, tanto quanto o que ainda não se é... uma viagem, não uma estação.

Próxima Estação

Sei que partes com dor porque temes perder quem aqui fica e não ter ninguém por lá, onde chegarás... sabes, em pouco tempo, terás de aceitar que muitos dos que agora lamentam muito a tua partida, se preocuparão tão pouco em saber como estás...

Já fizeste muita gente feliz aqui... Mas, estou certo que esta mudança vai ser algo magnífico para muita gente: no sítio para onde vais há gente que precisa de ti para ser feliz, ainda que para já, nem sequer saibam que é a ti que esperam... és uma semeadora de alegria, sê-lo-ás por onde andares... por mais longe e estranho que sejam o lugar e o povo onde estiveres.

Começar de novo é difícil, mas permite que comecemos sempre mais fortes, na medida em que partimos com mais erros acumulados e mais vontade de aproveitar bem a vida, num tempo que se encurta a cada hora...

Na alegria e na tristeza, obriga-te a nunca duvidar que o amor existe. Pode não estar onde julgas, nem com quem gostarias... mas existe. Dentro de ti, nunca se esgotará, até porque sempre que o entregamos, volta a nascer maior e mais belo... o que nos torna, talvez mais frágeis neste mundo, mas muito mais fortes... no que interessa.

Não te percas em grandes questionamentos à justiça do mundo... o mundo é injusto. Cabe a cada um de nós procurar, através das nossas ações, deixá-lo menos injusto.

Procura ser uma grande mulher, mas não no que se vê. O sorriso daquela pessoa simples que nunca mais se cruzará contigo na vida, talvez seja mais importante que uma salva de palmas de gente conhecida.

Sonha, muito, mas levanta-te cedo para lutares pelo que sonhas. A diferença no mundo não é entre os que são capazes de sonhar e os que não o fazem... é entre os que abrem os olhos e lutam e aqueles que, de olhos bem fechados, esperam que tudo lhes chegue sem esforço.

Segundo acredito, chegarás longe, muito muito alto... onde poucos chegam, por isso prepara-te e não estranhes quando enfrentares desafios e sofrimentos a que nunca viste ninguém ser exposto... o teu caminho é o teu caminho. Não te compares com ninguém. És única.

Quando fraquejares e caíres... levanta-te! Mesmo quando não souberes para quê ou como. Levanta-te... pois que a maior fortaleza que tens deverá ser usada para venceres sobre os egoísmos e medos... Quem não perdoa os pequenos defeitos, nunca chega a desfrutar das grandes virtudes...

Não procures quem te ame. Procura a quem amar.

Acredito, no mais fundo de mim, que és um pedaço de Deus no mundo.

Não te demores mais comigo, vai, que há por aí pessoas que precisam de ti para serem felizes... vai!

Gosto muito de ti.

Rezo por ti.

José Luís Nunes Martins, in 'Amor, Silêncios e Tempestades'
[Autoria da Ilustração: Carlos Ribeiro]




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