Desidério Murcho

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18 Citações

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Confunde-se muitas vezes a filosofia com discursos pretensamente inspiradores. Transfigura-se a filosofia e não se trata já de discutir ideias livre e cuidadosamente, mas antes de usar a autoridade ilusória dos filósofos mortos para alimentar as aspirações mais palermas.

Público / 20080520
Um teste simples contra a tolice linguística que tem o poder hipnotizador de inspirar quem aspira a ser inspirado dessa maneira é este: pegue-se numa dessas afirmações e neguemo-la. Se verificarmos que o seu poder inspirador é igual, é porque é isso que nos atrai e não a sua verdade - o que significa que é uma intrujice. Vejamos um exemplo: "O Homem é o ser para a morte." O que quer isto dizer? Parece profundo, mas é igualmente profundo, e igualmente machista, dizer que o Homem não é um ser para a morte. Por outro lado, se retirarmos o lodo gramatical da primeira afirmação obtemos uma verdade simples: os seres humanos morrem. Agora, a sua negação já é obviamente tola: os seres humanos não morrem.

Público / 20080520
A força de uma língua não reside na unidade ortográfica ou lexical, mas sim na produção cultural.

Público / 20080415
Qualquer argumento contra a Filosofia teria de ser filosófico. Portanto, para rejeitar a Filosofia temos de filosofar. O que demonstra que a Filosofia é inevitável.

Público / 20080226
Não há maneiras não-contraditórias de argumentar contra a Filosofia porque a Filosofia é o estudo cuidadoso das nossas ideias mais básicas. Mesmo quem pensa que a Filosofia é uma palermice tem ideias filosóficas sobre a natureza do conhecimento (Epistemologia) ou da realidade (Metafísica). Filosofar é avaliar cuidadosamente essas ideias, em vez de as aceitarmos como se fossem as únicas alternativas viáveis. Assim, a opção não é entre ter ou não ter ideias filosóficas. É tão impossível viver sem ter ideias filosóficas como é impossível viver sem ideias físicas. A opção é entre tê-las, estudando-as cuidadosamente, ou ter a ilusão de que não as temos, só porque não nos demos ao incómodo de as estudar.

Público / 20080226
Nada é mais prático do que ter opiniões verdadeiras, e a probabilidade de as alcançarmos sem discussão de ideias é quase inexistente.

Público / 20080219
A democracia exige uma genuína discussão pública de ideias. Isso só é possível se formos todos um pouco ateus perante as nossas próprias convicções. Chama-se a isso abertura de espírito: a capacidade para avaliar imparcialmente e com boa vontade todas as ideias, por mais ofensivas ou insuportáveis que nos pareçam. Sem isso, a democracia é uma miragem porque o fundamento da sua estrutura decisória não funciona.

Público / 20080219
Quando argumentamos a favor de algo, a nossa audiência não é quem já concorda connosco, mas quem discorda. E por isso temos de usar argumentos com premissas que essas pessoas aceitem. Ora, dado que elas rejeitam a nossa conclusão, encaram essas premissas como mais plausivelmente verdadeiras do que a conclusão. O trabalho argumentativo consiste então em mostrar que aquilo que essas pessoas já aceitam implica o que elas querem rejeitar. Isto significa que qualquer discussão racional pressupõe um pano de fundo de opiniões partilhadas, sem o qual nenhuma argumentação cogente pode ter lugar. Discutir ideias é uma abertura aos outros e uma procura de um terreno comum, no qual possamos estudar o que nos divide.

Público / 20080219
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