Umberto Eco disse um dia que a televisão cultivava as massas e embrutecia os intelectuais - o que pelo menos implicava uma convergência dos estratos sociais em direcção a um centro. Actualmente, é provável que já embruteça tanto uns como outros, e nesse movimento alguma coisa se perdeu: a TV deixou de ser uma máquina geradora de consensos, uma espécie de super-cola social, como foi durante décadas e ainda o era até há oito ou nove anos, quando no café todos conversavam sobre a novela da noite e se repetiam na rua as expressões aprendidas com os actores brasileiros. Mas essa é uma perda de poder que calha bem: o «centro», transformado em «pântano», já não está na moda, e a sociedade só tem a ganhar com o desdobramento dos olhares - fica-se melhor protegido contra a tirania da imagem única. Agradando cada vez a menos, hoje em dia não só é impossÃvel à televisão vender um Presidente, como existe mesmo uma certa dificuldade em vender os sabonetes
Diário de NotÃcias
/ 20030923