Miguel Torga

Portugal
12 Ago 1907 // 17 Jan 1995
Escritor/Poeta

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69 Citações

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A infância não se repete, nem na lembrança, nem na imaginação. Quando, muito, dá-se outra infância. As cenas ingénuas, porque eram ingénuas, não tinham consciência; e as humilhações, de tão pungentes, não há memória que consinta na sua perfeita expressão.

Diário (1946)
Liberdade é disciplina, consciência e auto-limitação. (...) Mas vamos juntar-lhe actualidade, técnica, e um conceito mais humano e dialéctico de encarar os problemas. Teremos a nossa ordem, que não há-de precisar de pistolas da ordenança, e teremos as nossas realizações. Desejamos coisas simples e possíveis.

Diário (1945)
A humanidade parece uma lebre encandeada pelo farol dum automóvel apocalíptico. De um lado, sombra; do outro lado, sombra; e no meio da estrada, inexorável, o mortal foco de luz. Nada que guie, esclareça, ilumine. Apenas um clarão paralisa-dor, que só dura até que as rodas esmaguem a razão deslumbrada.

Diário (1948)
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A desgraça dos verdadeiros poetas de Portugal, é que cada livro seu tem de ser desenterrado de uma avalanche diária de pseudo-poesia.

Diário (1948)
O homem ou é um indivíduo, ou não é nada. Tudo, menos perder a confiança que é preciso ter no semelhante, base de todo o convívio e de toda a colaboração.

Diário (1947)
Os antigos tinham razão em pintar anjos nos tectos dos quartos. Parte da vida passa-se a olhar para eles.

Diário (1946)
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A vida à beira-mar, para um escritor, tem a desvantagem de o fazer esquecer o mundo. É tão absorvente e tão embalador este ritmo contínuo das ondas, que se perde a memória do resto.

Diário (1948)
A rádio foi para a música o que o jornalismo foi para a literatura. Da mesma maneira que não há Cervantes que resista entre duas colunas de uma gazeta, não há Beethoven que se aguente entre dois fados da Mouraria.

Diário (1948)
A desgraça de um artista é nunca estar de consciência tranquila em relação à arte. Fez sempre tudo o que devia por ela? Desbastou a pedra até ao último alento? Ou deixou estátuas inteiras sepultadas na pedreira, por não ter coragem de suar mais?

Diário (1948)
O homem só peca contra o homem e contra as suas criações. Só para olhos verdadeiramente impuros é que a nudez de Miguel Ângelo precisava de camisas.

Diário (1946)
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Um Homem Comum

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