I

Ao ver um garotito esfarrapado
Brincando numa rua da cidade,
Senti a nostalgia do passado,
Pensando que já fui daquela idade.

II

Que feliz eu era então e que alegria...
Que loucura a brincar, santo delírio!...
Embora fosse mártir, não sabia
Que o mundo me criava p'ra o martírio!

III

Já quando um homenzinho, é que senti
O dilema terrível que me impôs
A torpe sociedade onde nasci:
— De ser vítima humilde ou ser algoz...

IV

E agora é o acaso quem me guia.
Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,
Sou tudo: mas não sou o que seria
Se o mundo fosse bom — como não é!

V

Tuberculoso!... Mas que triste sorte!
Podia suicidar-me, mas não quero
Que o mundo diga que me desespero
E que me mato por ter medo à morte...

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
// Consultar versos e eventuais rimas

1. Porque o Povo Diz Verdades
2. Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!
3. Que Feliz Destino o Meu
4. O Beijo Mata o Desejo
5. Os Vendilhões do Templo
6. Não Creio nesse Deus
7. Não Dês Esmola a Santinhos
8. Desporto e Pedagogia
9. Onde Nasceu a Ciência e o Juízo?
10. A Torpe Sociedade onde Nasci
11. A Gentil Camponesa
12. Façam por não Verem Mais