Cobra Norato - XXVIII
A floresta se avoluma
Movem-se espantalhos monstros
Riscando sombras estranhas pelo chão
Arvores encapuçadas soltam fantasmas
Com visagens do lá-se-vai
O luar amacia o mato sonolento
Lá adiante
O silêncio vai marchando com uma banda de música
Floresta ventrÃloqua brinca de cidade
Movem-se arbustos cúbicos
Sob arcadas de samaúma
Palmeiras aneladas se abanam
Jaburus de monóculo namoram estrelas mÃopes
João Cutuca belisca as árvores
Passa lá embaixo a escolta do Rei-de-Copas
Curvam-se as canaranas
Chegam de longe ruÃdos anónimos
- Quem é que vem?
- Vem vindo um trem:
Maria-fumaça passa passa passa
O mato se acorda
Cipós fazem intrigas no alto dos galhos
Desatam-se em gargalhadinhas
Uma árvore telegrafou para outra:
psi psi psi
Desembarcam vozes de contrabando
Sapos soletram as leis da floresta
Lá em cima
um curió toca flauta
Estira-se o rio
O mato é um acompanhamento
Desfiam-se as distâncias
entre manchas de neblina
- Lá vai indo um navio, compadre!
Jaquirana-bóia apita
Uma árvore abana adeus do alto de um galho
Raul Bopp, in 'Cobra Norato'