Raul Bopp

Brasil
4 Ago 1898 // 2 Jun 1984
Poeta / Diplomata

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Cobra Norato - XXVIII

A floresta se avoluma

Movem-se espantalhos monstros
Riscando sombras estranhas pelo chão

Arvores encapuçadas soltam fantasmas
Com visagens do lá-se-vai

O luar amacia o mato sonolento

Lá adiante
O silêncio vai marchando com uma banda de música

Floresta ventríloqua brinca de cidade

Movem-se arbustos cúbicos
Sob arcadas de samaúma

Palmeiras aneladas se abanam

Jaburus de monóculo namoram estrelas míopes
João Cutuca belisca as árvores

Passa lá embaixo a escolta do Rei-de-Copas
Curvam-se as canaranas

Chegam de longe ruídos anónimos

- Quem é que vem?
- Vem vindo um trem:

Maria-fumaça passa passa passa

O mato se acorda

Cipós fazem intrigas no alto dos galhos
Desatam-se em gargalhadinhas

Uma árvore telegrafou para outra:
psi psi psi

Desembarcam vozes de contrabando

Sapos soletram as leis da floresta

Lá em cima
um curió toca flauta

Estira-se o rio

O mato é um acompanhamento

Desfiam-se as distâncias
entre manchas de neblina

- Lá vai indo um navio, compadre!

Jaquirana-bóia apita
Uma árvore abana adeus do alto de um galho

Raul Bopp, in 'Cobra Norato'




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