Depois Vi o Sangue Coagular-se em Letras
Depois vi o sangue coagular-se em letras
espalhadas nos muros e nas pedras;
e o céu baixar-se para fecundá-las
e fugir outra vez para esquecê-las.
Depois vi o homem pressuroso em lê-las,
transformá-las em signos e arabescos
em palavras, em urros, em apelos
estranhas oceanias e sonetos,
Em hálitos de bocas cavilosas,
entrecortando sílabas amargas
engolidas no prato das desgraças,
e a gagueira ser tanta, tanto o fel
que a grande torre de marfim preciosa
era a torre danada de Babel.
Jorge de Lima, in 'Sonetos - Poesia Completa, Rio de Janeiro, 1997'