Em Defesa da LÃngua Portuguesa
Desta audácia, Senhor, deste descôco
Que entre nós, sem limite, vai lavrando,
Quem mais sente as terrÃveis conseqüências
É a nossa português, casta linguagem,
Que em tantas traduções anda envasada
(Traduções que merecem ser queimadas!)
Em mil termos e frases galicanas!
Ah! se, as marmóreas campas levantando,
SaÃssem dos sepulcros, onde jazem
Suas honradas cinzas, os antigos
Lusitanos varões, que, com a pena
Ou com a espada e lança, a Pátria ornaram;
Os novos idiotismos escutando,
A mesclada dição, bastardos termos
Com que enfeitar intentam seus escritos
Estes novos, ridÃculos autores;
(Como se a bela e fértil lÃngua nossa,
Primogênita filha da Latina,
Precisasse de estranhos atavios)
Súbito, certamente pensariam
Que nos sertões estavam de Caconda,
Quilimane, Sofala ou Moçambique;
Até que, já, por fim, desenganados
Que eram em Portugal, que os Portugueses
Eram também os que costumes, lÃngua,
Por tão estranhos modos afrontaram,
Segunda vez, de pejo, morreriam.
António Dinis da Cruz e Silva, in 'O Hissope - Canto V'