Joaquim Maria Machado de Assis

Brasil
21 Jun 1839 // 29 Set 1908
Escritor

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Musa Consolatrix

Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
          Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.

          Não há, não há contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
          Enchem, povoam tudo
De íntima paz, de vida e de conforto.

Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusão dos homens?
          Tu que podes, ó tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
          À enchente das angústias;
E, afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcíone divina.

          Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A última ilusão cair, bem como
          Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
          Ah! no teu seio amigo
Acolhe-me, — e terá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz, o último bem, último e puro!

Machado de Assis, in 'Crisálidas'
// Consultar versos e eventuais rimas




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