Os Dias Conto, e cada Hora, e Momento
Os dias conto, e cada hora, e momento
qu' alongando-me vou dos meus amores.
Nas árvores, nas pedras, ervas, flores,
parece que acho mágoa, e sentimento.
As aves que no ar voam, o sol, e o vento,
montes, rios, e gados, e pastores,
as estradas, e os campos, mostram as dores
da minha saudade, e apartamento.
E quanto m'era lá doce, e suave,
mais triste, e duro Amor cá mo apresenta,
a que entreguei da minha vida a chave.
Em lágrimas força é qu' as faces lave,
ou que não sinta a dor que na tormenta
memória da bonança faz mais grave.
António Ferreira, in 'Poemas Lusitanos'