Vou de Suspiros Todo este Ar Enchendo
Vou de suspiros todo est' ar enchendo,
vou a terra de lágrimas regando,
mais água aos rios, mais às fontes dando,
e com meu fogo em tudo fogo acendo.
E quando os olhos meus, senhora, estendo
para onde o Amor e vós m'estais chamando,
as altas serras em qu' os vou quebrando
da vista me tolher s' estão doendo.
Mas nisto acode Amor, que sempre voa;
eu pelas asas, eu pelo arco o tenho,
té me levar consigo onde desejo.
E jurarei, senhora, que vos vejo,
jurarei qu' essa doce voz me soa.
Nesta imaginação só me sostenho.
António Ferreira, in 'Poemas Lusitanos'