A Alma Popular é Totalmente Dominada por Elementos Afectivos e MÃsticos
A acção cada vez mais considerável das multidões na vida polÃtica imprime especial importância ao estudo das opiniões populares. Interpretadas por uma legião de advogados e professores, que as transpõem e lhe dissimulam a mobilidade, a incoerência e o simplismo, elas permanecem pouco conhecidas. Hoje, o povo soberano é tão adulado quanto foram, outrora, os piores déspotas. As suas paixões baixas, os seus ruidosos apetites, as suas ininteligentes aspirações suscitam admiradores. Para os polÃticos, servidores da plebe, os factos não existem, as realidades não têm nenhum valor, a natureza deve-se submeter a todas as fantasias do número.
A alma popular (...) tem, como principal caracterÃstica, a circunstância de ser inteiramente dominada por elementos afectivos e mÃsticos. Não podendo nenhum argumento racional refrear nela as impulsões criadas por esses elementos, ela obedece-lhes imediatamente.
O lado mÃstico da alma das multidões é, muitas vezes, mais desenvolvido ainda do que o seu lado afectivo. Daà resulta uma intensa necessidade de adorar alguma coisa: deus, feitiço, personagem ou doutrina.
(...) O ponto mais essencial, talvez, da psicologia das multidões é a nula influência que a razão exerceu nelas. As ideias susceptÃveis de influenciar as multidões não são ideias racionais, porém sentimentos expressos sob forma de ideias.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'