O PrestÃgio é Sempre Enganador
Tendo a generalidade das opiniões que a educação nos inculca, unicamente a educação por base, facilmente nos habituamos a admitir, com prontidão, um conceito defendido por um personagem aureolado de prestÃgio.
Sobre os assuntos técnicos da nossa profissão, somos capazes de formular conceitos muito seguros; mas, no tocante ao resto, não procuramos sequer raciocinar, preferindo admitir, com os olhos fechados, as opiniões que nos são impostas por um personagem ou um grupo dotado de prestÃgio.
De facto, quer se seja estadista, artista, escritor ou sábio, o destino depende, sobretudo, da quantidade de prestÃgio que se possui e, por conseguinte, do grau de sugestão inconsciente que se pode criar. O que determina o êxito de um homem é a dominação mental que ele exerce. O completo imbecil, entretanto, alcança êxito, algumas vezes, porquanto, não tendo consciência da sua imbecilidade, jamais hesita em afirmar com autoridade. Ora, a afirmação enérgica e repetida possui prestÃgio. O mais vulgar dos «camelos», quando energicamente afirma a imaginária superioridade de um produto, exerce prestÃgio na multidão que o circunda.
(...) Mesmo entre sábios eminentes, o prestÃgio é, muitas vezes, um dos factores mais certos de uma convicção. Para os espÃritos ordinários, ele o é sempre. Criador de opiniões e dominador das vontades, o prestÃgio é uma potência moral superior à s potências materiais. As sociedades nele se fundam muito mais do que na força. Ao voltar quase só da ilha de Elba, Napoleão, graças ao seu prestÃgio, reconquistou a França em poucos dias. Perante a sua auréola, os canhões do rei permaneceram silenciosos e os seus exércitos se dissiparam.
(...) A necessidade de adoração das multidões torna-as logo escravas dos indivÃduos que nelas exercem prestÃgio. Elas adoram freneticamente todos os seus adoradores.
Gustave Le Bon, in 'As Opiniões e as Crenças'