Da Fantasia
Os homens crêem no que lhes convém e fingem ignorar o que não lhes interessa. Deste modo, surpreendem-se sempre; porque o gosto de todos implica o desencanto de cada um. Não há dois desejos iguais nem um único mundo; o homem não quer ajustar-se a si e cada qual se imagina um outro. Depois choram a sua fantasia como realidade perdida; lágrimas verdadeiras sobre cadáveres imaginários. Tendo o remédio tão perto do bico, ignoram-no por vontade própria. Culpa da sua imaginação, que é seu arbÃtrio.
Max Aub, in 'Manuscrito Corvo'