Da Liberdade
Os homens resumem o seu ideal à liberdade e acumulam fronteiras. Querem viajar para aprender, sua máxima ilusão, e para dificultar os seus passos inventaram os passaportes e os vistos. Detêm-se e são detidos em linhas arbitrárias, delineadas a régua e esquadro, segundo o acaso dos tratados. E mesmo que o objecto do seu desejo esteja ao alcance da sua mão, não o agarram, por falta de carimbos. Não há corvo que os entenda, nem eles próprios se entendem.
Quanto mais longe estão de a alcançar (a liberdade), mais a desejam, o que revela, mais uma vez, a sua falta de sentido. Pela liberdade vivem encerrados, se não por gosto, à força, e com isto provo, mais uma vez, que desfrutam do que não têm. Se tivessem asas, o que não inventariam eles? Mas, se as tivessem, desejariam carecer delas.
Vivem dormindo, armando sonhos, e embora os reputem inverosÃmeis, crêem neles e até deles desfrutam, porque para os homens não vai nada do imaginado ao tangÃvel.
Com tais elementos, o seu mundo tem de ser para eles fantástico, absurdo nas suas consequências, incompreensÃvel para quem pondera. Assim é.
Max Aub, in 'Manuscrito Corvo'