Um Significado para a Vida
A ideia mais fundamental que apresento à s pessoas é que elas precisam de um significado na sua vida, para contrabalançar o sofrimento e a malevolência que existe e que é mais ou menos auto-evidente. A vida é difÃcil! E é difÃcil, em primeiro lugar, porque somos vulneráveis, biologicamente, e porque somos os alvos da malevolência — da nossa própria e da de outras pessoas. A vida é assim. E, por vezes, as coisas correm bem, mas outras vezes não correm assim tão bem. E para não ficarmos empedernidos por isto, e não nos virarmos contra a própria vida, é preciso ter um significado, sustentado. E tem de ser algo suficientemente poderoso para ser um antÃdoto para o terror da mortalidade. E o caminho mais direto que existe é a aceitação da responsabilidade individual. É carregar com as coisas todas aos ombros: a mortalidade, a tirania social, a malevolência, tudo — é o teu problema, faz alguma coisa quanto a isso, por tua iniciativa, vai fazer sobressair o melhor que há em ti.
(...) As pessoas compreendem perfeitamente quando lhes dizemos isto — elas já sabem que é assim, mas não o sabem pôr em palavras e nunca ouviram alguém a fazê-lo. Mas mesmo quando os conservadores falam sobre responsabilidade, estão a falar sobre o «duty», as «obrigações». Não é isso que estou a dizer — embora cumprir as obrigações de cada um seja uma coisa boa — mas estou a dizer uma coisa diferente: estou a dizer que cada um tem de lutar pela própria salvação, de certa forma. Porquê? Porque o risco é sermos tomados pelo sofrimento e pela malevolência, e isso irá levar-nos numa direção terrÃvel, um inferno. É necessário um significado sustentado, é necessário elaborar uma visão profunda e nobre para a sua vida, caso contrário, degenera-se. E não se degenera apenas o próprio, isso é apenas o começo. À medida que se degenera, estamos a tornar as coisas cada vez mais complicadas para nós próprios e para a nossa famÃlia, e trabalha-se ativamente para «minar» o resto da comunidade, e acaba-se cinicamente crÃtico sobre a estrutura da realidade. E isso é o inferno. E tivemos os infernos totalitários do século XX porque muitas pessoas deram por si nesse inferno.
Jordan Peterson, in 'Entrevista a jornal Observador, 15 de Novembro de 2018'