Virtudes dos Jovens e dos Velhos
Os jovens são mais aptos para inventar do que para julgar, para executar do que para aconselhar, para os novos projectos do que os negócios estabilizados. Porque a experiência da idade, nas coisas que quadram os velhos, dirige-os, mas engana-os nas coisas que aparecem de novo. Os erros dos jovens causam a ruína dos negócios; mas os erros dos velhos limitam-se ao que deveria ser feito de novo, ou mais cedo.
Os jovens, na condução e na economia dos negócios, têm ampla visão das coisas que não podem dominar, agitam mais do que apaziguam, voam rapidamente para os fins sem consideração dos meios e dos graus; conduzem os poucos princípios, que por acaso acolheram, até ao absurdo; não receiam inovar, o que traz desconhecidos inconvenientes, usam de princípio os remédios extremos, e, o que duplica todos os erros, não querem reconhecer-se nem retratar-se, como o cavalo mal ensinado que não quer parar nem retroceder.
Os homens de idade objectam muito, consultam muito, aventuram-se pouco, arrependem-se depressa, raras vezes conduzem os negócios ao grau de plenitude, porque se contentam com a mediocridade no êxito.
Certamente, é proveitoso combinar o emprego de novos e velhos: será vantajoso para o presente, porque as virtudes das duas idades corrigem reciprocamente os defeitos; será vantajoso para o futuro, para que os novos se instruam enquanto os velhos estão agindo; e, finalmente, será vantajoso para os acontecimentos externos, porque a autoridade acompanha os velhos, enquanto o favor popular acompanha os novos. Mas, do ponto de vista moral, talvez a juventude tenha a preeminência de que a velhice goza na política. Um certo rabino glosando o texto: «Os vossos jovens hão-de ter visões, e os vossos anciãos hão-de sonhar sonhos», inferiu que os novos são mais admitidos perto de Deus do que os velhos, porque a visão é uma revelação mais clara do que o sonho. E, certamente, quanto mais um homem se embriaga com o mundo, mais intoxicado fica; e a ideia traz mais provento para os poderes do intelecto do que para as virtudes da vontade e das afeições.
Francis Bacon, in 'Da Juventude e da Velhice'