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Filinto Elísio

Portugal
23 Dez 1734 // 25 Fev 1819
Poeta/Tradutor

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Quando a Fortuna Encetou com Desgraças

Quando a Fortuna, de inconstante aviso,
    Encetou com desgraças
O varão que não veio humilde, abjecto
    Adorar o seu Nume,
Na refalsada Corte, ou ante os cofres
    Chapeados de Pluto;
Levando avante, o seu empenho, e acinte,
    Maléfica lhe emborca
Sobre a cabeça a mágoas devotada,
    Toda a Urna infelice,
Que Jove encheu colérico co'as penas
    De atormentado inferno.
Dos ombros do Varão constante e justo
    Resvalam debruçadas
Perdas de bens, desonras mal sofridas
    A lhe aferrar o peito
Co'as garras afaimadas da pobreza;
    Logo os tristes Pesares
Em torno ao coração serpeiam, mordem,
    Trajando a rojo lutos.
Vem a má nova, de agouradas falas,
    Que se compõe sequela
De tibiezas, senões, desconfianças,
    Desamparo de amigos.
A Doença, com mão finada abrange
    Os fatigados membros
E no âmago do peito as amargaras
    Vão assentar morada.
Com índice maligno a Providência
    Lhe aponta no futuro,
Em nebuloso quadro hórridas formas
    De sinistros sucessos.
Quem não quisera, com melhor semblante
    Despedir-se do dia,
E fraudar, com as sombras do jazigo,
    Do Fado os ameaços?
Qual é a alma tão forte, que resista
    Aos prantos duma Amante
Ingénua, comedida, afável, terna,
    Que, nos braços da Angústia,
Implora com os olhos arrasados
    De lágrimas mimosas,
Arredado socorro, e este lh'o embarga
    Às desprezadas portas
O agudo rosto da Miséria esquiva!
    Amigos insensíveis
Vede, que é obra vossa este rascunho
    Das penas de Filinto:
Obra vossa, que o dais ao desamparo
    Com culpado descuido.

Filinto Elísio, in "Odes"
// Consultar versos e eventuais rimas




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