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Filinto Elísio

Portugal
23 Dez 1734 // 25 Fev 1819
Poeta/Tradutor

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Que Mimoso Prazer!

1

Que mimoso prazer! Teu rosto amado
Me raiou na alma! Oh astro meu luzente!
    Desfez-se em continente
    O negrume cerrado,
Que me assombrava o coração aflito,
Em saudades tristíssimas sopito.

2

Bem, como quando aponta o sol radiante
Pelos ervosos cumes dos outeiros;
    Fogem bruscos nevoeiros,
    Da roxa luz brilhante;
Assim, mal vi teu rosto, assim fugiam
As Mágoas, que de luto a alma cobriam

3

Quem sempre assim de amor nos brandos laços!
Doces queixas de amor absorto ouvira!
    Da idade não sentira
    O voo. Entre os teus braços
Me corte o fio, com a fouce, a Morte;
Que perco a vida, sem sentir o corte!

4

Se a meiga Vénus, se o gentil Cupido
Cede a meus votos, cede à minha Amada:
    Se esta união prezada
    Não rompe um Nume infido...
Não dou por mais feliz o vil Mineiro
Sobre montes de sórdido dinheiro.

5

Não dou por mais feliz o Rei no trono
Lisonjado de Cortesãos astutos.
    Já meus olhos enxutos,
    Já alegres dão abono
Do gosto, em que se engolfa o peito, ao ver-te,
Dos sustos, que se afastam, de perder-te.

6

Amor quanto é maior, mais é medroso:
Descora, que lhe fuja o bem ganhado.
    Quase vejo roubado
    O Bem mais precioso...
Das mãos m'o arrancam!... Márcia! e tu - consentes?
Ah! Não digas, que me amas... Márcia... Ai... Mentes.

7
Quero deixar-te. — Antes que tu te enlaces
Nos braços desse, que de Ti me priva.
    Resgato a alma cativa,
    Antes, que a eles passes.
Não quero ver, em teus grilhões atado,
Lograr-se outrem dum Bem, a mim roubado.

8

Irei vertendo lágrimas iradas
Por essas nuas praias arenosas:
    Às Naiadas piedosas
    Minhas queixas magoadas
Irei contar. Irei cravar no peito
Um punhal, vingador de meu despeito.


9

Não, linda glória desta vida tua;
Despe os temores de eu querer deixar-te
    Eu! — Que jurei amar-te! —
    A sorte amarga e crua
Não fará que perjure a sã vontade
De amar em Ti a minha Divindade.

10

Não Inconstância, não os Desfavores
Menos puro farão meu canto amante.
    Que eu falte a ser constante
    Aos olhos roubadores,
Às faces de carmim, madeixas de ouro,
Em quem Vénus, e Amor põem seu tesouro!

11

Vivas ausente, ou vivas sempre à vista,
O teu Filinto há-de adorar-te puro.
    Tens meu peito seguro,
    Tens segura a conquista:
Nem doutra sorte esses teus olhos rendem,
Nem estes meus outra adorar pretendem.

12

Jurei a Amor em teu altar sagrado
De agasalhar no seio a Lealdade.
    Não temas falsidade
    Num coração honrado.
Não quebrarei o juramento amante,
Que fiz ao Deus, que fiz ao teu semblante.

Filinto Elísio, in "Miscelânia"
// Consultar versos e eventuais rimas




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