O Abraço
(excerto)
Não vês inda, de gosto sufocados,
Um noutro nossos peitos esculpidos?
Não sentes nossos rostos tão chegados
E ainda mais os corações unidos?
Oh! Mais, mais do que unidos!
Tu fizeste, Doce encanto, que eu fosse mais que teu.
Lembra, lembra-te quando me disseste:
- Meu bem, eu não sou tu?... Tu não és eu?
Goza, de todo goza o teu amante;
E unidos ambos... -Oh!... e estás tão perto!...
Meu bem, deliro, sonho ou estou desperto?
Ambos unidos em mimoso laço,
Faces, bocas unidas... Ah! que faço?...
É ar... Quando que a abraço me parece,
A mim me abraço e em ar se desvanece.
Mas que duvido com abraço estreito
Cingir-me?... Dize, não és seu, meu peito?...
[...]
Goza, meu bem (enquanto a Sorte avara
Com tanta crueldade nos separa)
Goza do alívio, que nos concedeu,
De dizer com certeza: É minha! - É meu!...
José Anastácio da Cunha, in 'Antologia Poética'