José Tolentino Mendonça
Portugal
n. 15 Dez 1965
Padre/Teólogo/Poeta
n. 15 Dez 1965
Padre/Teólogo/Poeta
O Custo do Nosso Amor
Torno muitas vezes, mesmo em pensamento, a uma cena do fílme-testamento de Andrei Tarkovsky, O Sacrifício (Offret, 1986). No dia do aniversário de Alexander, o protagonista da história, o presente mais inesperado (e também mais precioso) é o que lhe é oferecido pelo carteiro: um mapa do século XVII. Surpreendido por aquele gesto, Alexander agradece muito, mas faz tenção de devolver o dom ao oferente, com a objeção de que se trata de uma coisa rara, sem dúvida demasiado custosa. Ele aceitaria quando muito uma lembrança simples. Um presente daquela natureza não poderia receber. Mas o carteiro responde: «Todo o presente é um sacrifício. Caso contrário, como é que poderia ser um dom?»
A nossa cultura acha que qualquer discurso sobre o sacrifício é repressivo e impopular, e remete-os para debaixo do tapete. O que não admira. Uma cultura que se autorrepresenta como um interminável parque de diversões aposta tudo na infantilização dos sujeitos (ou dos «públicos», como agora se diz). E claro que, no polo oposto, uma mentalidade sacrificial, onde o sacrifício passa a ser a finalidade dele mesmo, se torna também neurótica e estéril. As religiões sabem bem disso, porque têm sido campo favorável para o grassar de visões parciais desse tipo. Talvez precisemos de reinventar novos pontos de equilíbrio e, com isso, de redescobrir que por detrás de tudo o que é grande, belo e verdadeiro está necessariamente o sacrifício, como disponibilidade para assumir o custo do nosso amor.
José Tolentino Mendonça, in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'
A nossa cultura acha que qualquer discurso sobre o sacrifício é repressivo e impopular, e remete-os para debaixo do tapete. O que não admira. Uma cultura que se autorrepresenta como um interminável parque de diversões aposta tudo na infantilização dos sujeitos (ou dos «públicos», como agora se diz). E claro que, no polo oposto, uma mentalidade sacrificial, onde o sacrifício passa a ser a finalidade dele mesmo, se torna também neurótica e estéril. As religiões sabem bem disso, porque têm sido campo favorável para o grassar de visões parciais desse tipo. Talvez precisemos de reinventar novos pontos de equilíbrio e, com isso, de redescobrir que por detrás de tudo o que é grande, belo e verdadeiro está necessariamente o sacrifício, como disponibilidade para assumir o custo do nosso amor.
José Tolentino Mendonça, in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'
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Outros Textos de José Tolentino Mendonça:
1. A Rotina não Basta ao Coração do Homem
2. Viver em Estado de Amor
3. O Amor é o Caminho que nos Leva à Esperança
4. A Nossa Maior Crueldade é o Tempo
5. Controlar a Vida a 360 Graus
6. Não Será Tempo de Voltarmos aos Sentidos?
7. Estranho Sentimento, a Inveja
8. Sabemos o que é um Amor?
9. Atravessar a Própria Solidão
10. O Aqui e o Agora
11. O Custo do Nosso Amor
12. Os Amigos Revelam-se
13. A Forma de não Desistir
14. Avizinhar-se do Silêncio
15. A Vida Será uma Aventura Fecunda
16. Dar ao outro aquilo que não se Tem
17. Quem Precisa de Ajuda também Ajuda
18. Mais Solitários do que Supomos
19. Trazer uma Imagem de Amor dentro de Si
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14. Avizinhar-se do Silêncio
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16. Dar ao outro aquilo que não se Tem
17. Quem Precisa de Ajuda também Ajuda
18. Mais Solitários do que Supomos
19. Trazer uma Imagem de Amor dentro de Si
