Publicidade

Alberto Moravia

Itália
28 Nov 1907 // 26 Set 1990
Escritor/Jornalista

Publicidade

O Fim da Personagem

Hoje, após tantas experiências, a personagem está ameaçada de ser suprimida exclusivamente a favor do escritor. A arborescência de memória, sombras de fantasia, suspeitas de sensibilidade ou a conversas fúteis, monólogos e solilóquios, parece estar reduzido a única personagem ainda hoje possível, isto é, aquela que diz «eu». É significativo que esta redução coincida com a procura atenta duma linguagem narrativa que satisfaça as ampliadas exigências estéticas do tempo. Em conclusão, depois do romance ter sido durante tanto tempo uma questão de conteúdo parece agora resolver-se por um compromisso formal. Teremos depois da lírica pura o romance puro? Como se vê estamos bem longe do romance oitocentista.

Evidentemente que a crise da personagem corresponde a uma crise semelhante do conceito do homem. O homem moderno não passaria duma entidade numérica dentro da colectividade entre as mais formidáveis que a humanidade já conheceu. Não existiria por si só mas como parte de qualquer outra coisa, de um organismo, de um sentimento, de um conceito colectivo. Com um tal homem é bastante difícil fazer uma personagem, pelo menos no sentido tradicional da palavra.
Mas neste ponto há necessidade de acentuar que muito mais do que a personagem conta a experiência metafísica e moral a partir da qual nasce a personagem mesmo. Essa experiência, provávelmente, será inteiramente renovada. Por isso o romance não morreu. Espera apenas um novo conceito do homem para renascer com dignidade.

Alberto Moravia, in 'O Homem Como Fim' (texto escrito em 1941)




Publicidade

Publicidade

Publicidade

Facebook
Publicidade

Inspirações

Falar ao Amigo

Publicidade

© Copyright 2003-2021 Citador - Todos os direitos reservados | SOBRE O SITE