Então tu pensas que há muitos casais como nós por esse mundo? Os nossos mimos, a nossa intimidade, as nossas carícias são só nossas; no nosso amor não há cansaços, não há fastios, meu pequenito adorado! Como o meu desequilibrado e inconstante coração d'artista se prendeu a ti! Como um raminho de hera que criou raízes e que se agarra cada vez mais. Vim para os teus braços chicoteada pela vida e quando às vezes deito a cabeça no teu peito, passa nos meus olhos, como uma visão de horror, a minha solidão tamanha no meio de tanta gente! A minha imensa solidão de dantes que me pôs frio na alma. Eu era um pequenino inverno que tremia sempre; era como essa roseira que temos na varanda do Castelo que está quase sempre cheia de botões mas que nunca dá rosas! Na vida, agora há só tu e eu, mais ninguém. De mim não sei que mais te dizer: como bem mas durmo mal; falta-me todas as manhãs o primeiro olhar duns lindos olhos claros que são todo o meu bem.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1921)"

1. Amar Intensamente
2. Só se Pode Ser Feliz Simplificando
3. Gosto das Belas Coisas Claras e Simples
4. Viver é não Saber que se Vive
5. Tenho Saudades da Carícia dos Teus Braços
6. Amar não é Ser Egoísta
7. O Dom Milagroso de um Grande Amor
8. O Sucesso para um Grande Amor
9. A Única Coisa que Desculpa o Casamento é o Amor
10. Vim para os Teus Braços Chicoteada pela Vida
11. Como te Tens Lembrado Hoje de Mim?
12. Tremo por Ti que És o Meu Único Amigo
13. Uma Mulher sem Areia Nenhuma
14. O Amor não Passa de uma Pobre Coisa Banal e Incompleta
15. Quer-te Muito a Tua Mulherzinha
16. Tem-me Custado a Passar o Dia
17. Deve Ser Tão Bom Ser Alegre
18. Porque Andas tão Alegre?
19. Podia Ser Alguém na Sociedade Portuguesa
20. A Ternura Cheia de Afecto de uma Pessoa Amiga
... Ver todos os 20 textos