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Teixeira de Pascoaes

Portugal
8 Nov 1877 // 14 Dez 1952
Poeta

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A Minha Dôr

Tua morte feriu-me no mais fundo,
Remoto da minh'alma que eu julgava
Já fóra desta vida e deste mundo!

E vejo agora quanto me enganava,
Imaginando possuir em mim
Alma que fôsse livre e não escrava!

Meu espirito é treva e dôr sem fim.
Todo eu sou dôr e morte. Sou franquêsa.
Sou o enviado da Sombra. Ao mundo vim

Prégar a noite, a lagrima, a incertêsa,
A luz que, para sempre, anoiteceu...
Esta envolvente, essencial tristêsa,

Tristêsa original donde nasceu
O sol caindo em lagrimas de luz,
Chôro de oiro inundando terra e céu!

Sou o enviado da Sombra. Em negra cruz,
Meu ilusorio sêr crucificado
Lembra um morto phantasma de Jesus...

E aos pés da minha cruz, no chão maguado,
A tua Ausencia é a Virgem Dolorosa,
Com tenebroso olhar no meu pregado.

Ah! quanto a minha vida religiosa,
Depois que te perdeste no sol-pôsto,
Se fez incerta, fragil e enganosa!

Em meu sêr desenhou-se um novo rôsto.
Sou outro agora; e vejo com pavor
Minha máscara interna de desgôsto.

Vejo sombras á luz da minha dôr...
Sombras talvez de eternas Creaturas
Que vivem na alegria do Senhor...

E quem sabe se os Mortos, nas Alturas,
Vivem na paz de Deus, em sitios êrmos,
Entre flôres, sorrisos e venturas?...

E quem sabe se as dôres que soffremos
E nosso corpo e alma, não são mais
Que as suas vagas sombras irreaes?...

Ah, nós sômos ainda o que perdemos...

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'
// Consultar versos e eventuais rimas




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