De tanto reentrar no mesmo vazio
De tanto reentrar no mesmo vazio
e conhecer o vento glacial que me absorve,
mantenho aceso o fogo que a consciência envelhece,
um consolo cruzado entre um fumo de dúvidas.
E esta travessia de séculos prevê uma imagem
quando a inutilidade da noite a alastra
às estrelas sobre o poema não escrito, onde um rosto
assinala em branco o regresso ao mundo.
Talvez me nomeie hoje um momento de euforia
por cada insinuação aos olhos da luz,
e quem sabe se esta superfÃcie grossa
não carrega a ferida nocturna que me afasta
de tudo o que é fácil e perecÃvel.
Tiago Nené, in 'Este Obscuro Objecto do Desejo'