Deturpações têm confundido muitas pessoas inocentes ao serem associadas a factos e acontecimentos concretos, que aqueles que ainda têm consciência não poderão negar. Os hábitos são difíceis de desenraizar e deixam marcas indeléveis, cicatrizes invisíveis gravadas nos nossos ossos e que correm no nosso sangue, e que causam danos irreparáveis aos actores principais, e podem representar um fardo para os seus descendentes, façam eles o que fizerem, privando-os da dignidade, da pureza e da felicidade que lhes deveriam pertencer por direito. Tais cicatrizes revelam as pessoas tal como elas são, e expõem publicamente as contradições vergonhosas em que as pessoas vivem as suas vidas. Essas contradições são, por seu turno, o espelho que reflecte uma imagem fiel do visado e proclamam «sejam quais forem os meus ideais na vida, isto é o que eu sou».

A nossa vida cria as suas próprias defesas e compensações. Ensinam-nos que um santo é um pecador que não cessa de se esforçar por ser puro. Pode-se ser um vilão durante 3/4 da vida e ser canonizado porque se vive em santidade durante o último 1/4 da vida. Na vida real lidamos não com deuses, mas com seres humanos comuns, como nós próprios: homens e mulheres cheios de contradições, estáveis e inconstantes, fortes e fracos, famosos e infames, pessoas em cujo sangue a larva do estrume luta diariamente contra pesticidas potentes. Os aspectos em que nos concentramos ao julgar os outros dependem do carácter de cada juiz em particular. Como julgarmos os outros, assim seremos julgados por eles. O desconfiado será sempre atormentado pela desconfiança, o crédulo estará sempre pronto a aceitar tudo o que o que se lhe disser, enquanto o vingativo utilizará o machado afiado em vez do espanador de penas. Mas o realista, por mais chocado e decepcionado pelas fraquezas daqueles que ele adora, encarará o comportamento humano sob todos os ângulos e concentrar-se-á objectivamente nas qualidades verdadeiramente edificantes de uma pessoa, o que contribui para elevar o espírito e despertar a alegria de viver.

Nelson Mandela, in 'Carta a Winnie Mandela, 9 de Dezembro de 1979'

1. A Minha Inspiração
2. As Verdadeiras Qualidades ao Alcance de qualquer Ser Humano
3. Os Sintomas do Nosso Mal-Estar Espiritual
4. Reinstalar a Solidariedade Humana
5. Ser Livre
6. As Vantagens do Exercício Físico
7. O Bom e o Mau em Todos Nós
8. Contra o Abuso das Crianças
9. Os Verdadeiros Problemas
10. As Bases da Sociedade
11. O Respeito pelo Multilateralismo
12. Relações de Poder entre Homens e Mulheres
13. Saber Falar às Multidões
14. O Papel do Desporto
15. O Comportamento Humano Sob Todos os Ângulos
16. Lembra-te Sempre Disto
17. Para Conquistar um Mundo Novo