Não se coloca o tema da utilidade, porque, pergunto: em que âmbito é útil seja o que for? Interessa-me este resultado: o de que em mim, expressando-se em gramática, em pauta, há uma expectativa ardente, uma ardente pergunta sem resposta, uma perplexidade ardente que me concedem um centro, um ponto de vista sobre a debandada das coisas, coisas centrífugas para diante, nos dias, no caos dos dias, centrífugas para trás, nos instantes mais densos da memória, átomos fosforecendo no caótico fluxo da memória. E então eu sei: respiro nessa pergunta, respiro na escrita dessa pergunta. Qualquer resposta seria um erro. Como eu próprio sugeri algures: um erro das musas distraídas.

Herberto Helder, in '(Auto-)Entrevista, Jornal Público, 4 Dezembro 1990'

1. Nota para não Escrever
2. O Prestígio da Poesia
3. O Ofuscante Poder da Escrita
4. O Extremo Poder dos Símbolos
5. Nada é Suficiente para se Morrer
6. O Nascimento de um Poema
7. O Mundo Transformado em Poder da Palavra
8. O Prestígio de um Poeta
9. Saber Ler um Poema
10. O Único Movimento Poético Moderno
11. Os Recursos de um Poeta
12. A Evolução da Criatividade
13. Não Existe Prosa
14. Um Único Poema
15. A Utilidade da Escrita
16. No Meu Tempo não Era Assim