A Visita do PrÃncipe
Não sei nunca o que me trazem as palavras, elas gostam tanto de me surpreender. Hoje ao levantar da névoa trouxeram-me a casa sobre o rio, o terraço escassamente iluminado por um lampeão que balançava ao vento, o pequeno sapo que todas as noites, rente ao muro, se ia aproximando, depositário de tudo o que nesse tempo em mim se confundia com a ternura. Pequeno prÃncipe da vadiagem, por ali se quedava sem outro ofÃcio que não fosse o de receber alguma carÃcia, só depois regressando por entre a humidade das pedras aos pântanos da sombra, a noite inteira nos olhos desmedidos.
Eugénio de Andrade, in 'Poesia e Prosa [1940-1980]'