Estamos a Cair na Mediocridade Governativa
Estamos a cair na mediocridade porque estamos muito subservientes aos padrões de eficácia e da racionalidade europeia. Os tempos festivos da revolução passaram. Teriam naturalmente que passar, mas aplica-se a terapêutica da racionalização tecnocrática e isso mata o sonho. Devia haver outras vias. Vias apropriadas à quilo que somos. Não somos um PaÃs de grandes voos capitalistas. Se o quisermos ser caÃmos, inexoravelmente, nas garras do monopolismo. Portanto, devÃamos cultivar as pequenas e médias empresas. Esta devia ser a lógica da economia portuguesa. Devia dar-se grande valor à s pequenas e médias empresas e realmente deixarmo-nos de ambições que nos alcem aos grandes padrões europeus.
(...) Os (partidos polÃticos têm) os mesmos defeitos e algumas qualidades em comum. Evidentemente que os partidos são um defeito necessário, porque dividem, mas é uma divisão necessária para agrupar, para reunir a ideia da democracia parlamentar que temos. Agora, o erro das pessoas é adorná-los com méritos extraordinários, porque isso faz-nos cair numa partidolatria, imprópria de espÃritos livres! Não penso que a nossa classe polÃtica seja pior do que a classe polÃtica de outros paÃses. Ponhamos as coisas neste pé: as minhas exigências estéticas e éticas não tornam muito fáceis as minhas relações com a classe polÃtica. São caminhos separados. Não vamos pelo mesmo trilho. Mas a classe polÃtica é necessária. Ela existe e tem defeitos. Terá também uma ou outra qualidade.
(...) Agora, eu pergunto-me até que ponto é que hoje os Governos governam?! Porque hoje ser-se Governo é um absurdo, na medida em que todos os Governos são governados (não me refiro aos Governos das grandes potências, mas de uma nação modesta como a nossa), são governados por um poder económico que imana de forças mundiais sem rosto. Portanto, eu não sei a quem cabe a decisão, não sei quem é que nos governa.
Natália Correia, in Entrevista (1983)'