O Preço do Amor
Não é fácil estar apaixonado por uma mulher e fazer alguma coisa de jeito. És devorado pela ansiedade. Não convém deixares-te embeiçar por uma mulher que se mostre difÃcil de conquistar, isso é como passar o resto da vida a tentar escalar o Everest. Escolhe uma mulher que possas conservar sem muito esforço. Quanto a mulheres boas, podemos comprá-las. Por meia dúzia de euros, arranjas uma russa de dezoito anos, dessas que nem nos filmes se veem. Fodes, pagas e regressas a casa para jantar com a famÃlia, com a tua mulher, que cozinha bem e fode mal, mas que não lhe passa pela cabeça separar-se de ti, entre outras coisas porque ninguém a olha com particular interesse. Ela vai à s reuniões de pais na escola, controla as AMPAS, as APLAS, todas essas associações que nem sei como se chamam, esses serviços, esse jargão, esse lixo social-democrata que os do PP copiam com entusiasmo porque soa a famÃlia moderna e feliz, e também um pouco a Opus Dei, e mete os miúdos na ordem e sabe escolher o detergente mais eficaz no Mercadona e o melhor queijo e o melhor foie gras de fabrico próprio da charcutaria. Passa-te as camisas a ferro e cose-te os botões. Ou sabe orientar a criada nessas tarefas, a mesma criada que selecionou depois de a ter submetido a mais provas do que a um atleta olÃmpico. É de uma assim que um tipo precisa, pois não é fácil conviver com uma mulher que te domina e te obriga a tratar da comida e da roupa e que além disso é insaciável na cama e te fode até à exaustão. Uma dessas ninguém aguenta.
Rafael Chirbes, in 'Na Margem'