Os Filhos do Espaço
É verdade que o desejo de conforto mata a paixão da alma que, a seguir, caminha com um sorriso no funeral.
Mas vós, filhos do espaço, vós, que na quietude permaneceis inquietos, não sereis aprisionados nem domados.
A vossa casa não será uma âncora, mas um mastro.
Não será uma película reluzente que cobre uma ferida, mas uma pálpebra que protege o olho.
Não recolhereis as vossas asas para conseguir passar pelas portas, nem baixareis as cabeças para que não batam contra o teto, nem tereis medo de respirar, por receio de que as paredes rachem e se desmoronem.
E não habitareis em túmulos feitos pelos mortos para os vivos.
Embora feita de magnificência e esplendor, a vossa casa não conterá o vosso segredo nem dará abrigo ao vosso desejo.
Pois aquilo que em vós é sem limites habita na mansão do céu, cuja porta é a bruma da manhã e as janelas são as canções e os silêncios da noite.
Khalil Gibran, in 'O Livro da Vida'