Khalil Gibran

Líbano
6 Jan 1883 // 10 Abr 1931
Ensaísta/Filósofo/Poeta

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Amor

Então, Al-Mitra disse, «Fala-nos do Amor.»   

Ele ergueu a sua cabeça e olhou sobre o povo, caindo sobre eles uma grande quietude.

Então, numa voz majestosa disse:

Quando o amor vos chamar, segui-o,

Embora os seus caminhos sejam duros e inclinados

E, quando as suas asas vos abraçarem, rendei-vos,

Apesar da espada que se esconde por entre as suas penas vos poder ferir.

Quando o amor vos falar, acreditai nele,

Apesar da sua voz poder despedaçar os vossos sonhos, como a nortada devasta o jardim.

Pois mesmo quando o amor vos coroar, também vos crucificará. Assim como ele vos faz desabrochar, também é ele a fazer a vossa poda.

Mesmo quando ele se elevar até ao alto da vossa copa, e acariciar os vossos mais delicados ramos que balançam ao sol,

Assim também descerá até às vossas raízes, e as abanará na sua união à terra.

Como gavelas de milho ele vos reunirá sobre si mesmo.

E vos debulhará até vos despir por completo.

Peneirar-vos-á para vos remover a casca.

E moer-vos-á até à brancura.

Amassar-vos-á até que estejais moles e dóceis

E lançar-vos-á ao seu fogo sagrado, para que vos torneis pão abençoado para o sagrado banquete de Deus.

Todas estas coisas o amor vos fará para que possais conhecer os segredos do vosso coração, e para que, com esse conhecimento, vos torneis um pedaço do coração da Vida.

Mas se, no vosso medo, buscardes apenas a paz e os prazeres do amor,

Então é melhor cobrirdes a vossa nudez e passar longe da eira do amor,

Tereis um mundo sem estações, onde podereis rir, mas não completamente, e podereis chorar, mas nunca por inteiro.

O amor apenas se dá a si mesmo e nada toma senão de si mesmo.

O amor não possui nem pode ser possuído;

Porque o amor se basta a si próprio.

Quando amardes, não digais «Deus está no meu coração», mas antes «Eu estou no coração de Deus.»

E não penseis que é possível dirigir o rumo do amor, pois se o amor vos achar dignos, será ele a dirigir o vosso rumo.

O amor não deseja senão realizar-se.

Mas se ao amar, necessitardes de desejos, então que sejam estes:

Derreter e ser como um ribeiro que corre e canta a sua melodia na noite.

Conhecer a dor da ternura em excesso.

Ser ferido pela vossa própria compreensão do amor;

E sangrar espontânea e alegremente.

Acordar ao amanhecer com asas no coração e dar graças por mais um dia para amar;

Descansar ao meio-dia e meditar no deslumbramento do amor;

Regressar a casa ao entardecer com gratidão;

E adormecer com uma oração por aqueles que o vosso coração ama e uma canção de louvor nos vossos lábios.

Khalil Gibran, in 'O Grande Livro do Amor (tradução de José Luís Nunes Martins)'




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