Depois, Al-Mitra falou novamente e disse «E sobre o Casamento, mestre?»
E ele respondeu dizendo:
Nascestes juntos e juntos devereis permanecer para todo o sempre.
Devereis ficar juntos quando as brancas asas da morte despedaçarem os vossos dias.
Sim, devereis ficar juntos mesmo no silêncio da memória de Deus.
Mas deixai que haja espaços na vossa união,
E permiti que os ventos do céu dancem entre vós.
Amai-vos, mas não deixeis que o amor se torne uma amarra:
Deixai antes que seja um mar que se move por entre as margens das vossas almas.
Enchei a taça um do outro, mas não bebeis da mesma taça.
Oferecei ao outro o vosso pão, mas não comais da mesma fatia.
Cantai e dançai juntos em alegria, mas permiti ao outro que possa estar só,
Assim como as cordas de um alaúde estão separadas e sós, embora vibrem ao som de uma mesma música.
Oferecei os vossos corações, mas não para que sejam possessão um do outro.
Pois apenas a mão da vida pode conter os vossos corações.
E permanecei juntos, mas não demasiado perto:
Pois os pilares do templo encontram-se a uma certa distância uns dos outros,
E o carvalho e o cipreste crescem, mas não à sombra um do outro.
Khalil Gibran, in 'O Grande Livro do Amor (tradução de José Luís Nunes Martins)'