A solidão é perfeita como um rasgo entre
as nuvens, ao último sonho. A solidão
que se cala em teu fundo e vai envelhecendo
na terra perdida do som descompassado.

Te guardas na intimidade dos armários,
onde a paz é negra e se desagrega a luz.
Nunca foste mais do que uma ficção, matriz
de riso e sombra, um poço verde, teorema

de ilusões, engrenagem de poentes roxos.
E, agora, frouxo, já nada designas ou
desenhas. És, apenas, testemunha efémera

e longínqua, trovão engolido de Deus,
fingidor ferido de doces cantos, mentira
precária nas cordas de uma harpa febril.

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"
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1. Todas as Noites me Sinto
2. As Mãos
3. O Sexo
4. À Morte
5. As Lágimas
6. O Coração - II
7. A Dor
8. Só de Restos se Consagra o Tempo
9. Pandora
10. O Medo
11. A Idade
12. O Coração
13. O Corpo
14. Só os Lábios Respiram
15. Erra, Fio mortal da Alma, o Destino
16. Como Realiza o Corpo este Exercício da Queda
17. Só no Pensamento Volta o Mundo
18. O Sono
19. Criei, não Possuí
20. A Área
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