Thomas Bernhard

Austria
9 Fev 1931 // 12 Fev 1989
Escritor

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O que Mais me Convém é Estar Só

O que mais me convém é estar só. Considero realmente esse estado como o ideal. A minha casa é na verdade uma prisão gigantesca. Isso agrada-me muito. Na medida do possível, paredes nuas. Nuas e frias. Têm um óptimo efeito no meu trabalho; nos meus livros, as coisas que escrevo são assim, parecidas com a minha casa. Surpreendo-me com frequência a achar que os capítulos de um livro são como as divisões da minha casa. As paredes vivem, não é verdade? E as páginas também, como as paredes. Isso basta. E preciso olhá-las intensamente. Quando se olha uma parede branca, vê-se que não é branca nem fria. Quando se vive muito tempo só e já se está habituado, quando se exerceu a solidão e se está, a bem dizer, instalado nela, descobre-se sempre mais ali onde, por qualquer razão que não importa, não há nada. Distinguem-se minúsculas fissuras na parede, pequenos rebordos, desigualdades, insectos. Há uma actividade monstruosa nas paredes.
Com efeito, as paredes e as páginas são perfeitamente semelhantes.
O meu modo de viver deve parecer monótono aos de fora. Todas em meu redor levam uma existência mais excitante ou pelo menos mais interessante. Para mim, o modo de viver dos meus vizinhos é interessante. Dedicam--se a actividades simples — o mais próximo é um lavrador; mais longe, em frente, vive um operário papeleiro; mesmo ao lado, um carpinteiro; nos arredores, trabalhadores da fábrica de papel, artesãos, camponeses — ocupações que me parecem todas naturais, embora não façam mais que repetir-se centenas de milhares de vezes, e se revelem no entanto sempre novas. A minha existência, as minhas ocupações, o meu dia-a-dia parecem-me uniformes, monótonos, sem conteúdo...

Thomas Bernhard, in 'Trevas'




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